Passos Misteriosos

por jennyh! Sex 03 Set 2010, 17:03

Numa reunião entre amigas, Maria dos Prazeres me contou esta história e me autorizou a enviá-la para o Assomblog. Quando ela tinha oito anos, seus pais moravam no Córrego do Euclides, em Casa Amarela. Sempre após o jantar, saía para brincar de esconde-esconde com outras crianças do local. Na subida de alguns degraus de cimento que dava acesso à sua casa, existia um terraço sustentado por uma coluna onde ela costumava se esconder. Medo e angústia se misturavam quando minha amiga se encolhia atrás daquela coluna onde - ouvia barulhos de passos pesados subindo os degraus, se aproximando. A menina pensava que aquelas pisadas eram dos meninos, raivosos, querendo encontrá-la.

Certa noite, seus pais receberam a visita de um casal de amigos. Todos conversavam na sala e Prazeres sentou-se ao lado dos adultos. Não teve vontade de brincar, mas os gritos das outras crianças chamaram a atenção da mãe que estranhou ver a filha ali, aconchegada, sem estar brincando no meio dos outros. Então pediu que a menina saísse. Prazeres disse não. Mas,diante da insistência e do olhar da mãe, teve que obedecer e se foi ao encontro dos colegas.

Quando chegou a hora da brincadeira de se esconder, correu Prazeres para trás da coluna e lá escondida ouviu passos: TUM, TUM, TUM. Depois pararam e recomeçaram: TUM, TUM, TUM. O medo já tomava conta da menina. Apavorada, fez um movimento que nunca fizera. Em vez de se encolher, pôs o rosto para fora da coluna. Ela viu subindo os degraus um homem alto e magro; na mão direita trazia pendurado pela alça um latão prateado; usava botas e uma longa capa preta. Tinha boas feições, mas parecia haver muito tédio em seu olhar. Ao subir aqueles degraus, dava a impressão que estava marchando, tão firmes eram suas pisadas.

Prazeres não conseguia se mexer e gritou - um grito tão alto que correram para perto dela os pais, os amigos e alguns vizinhos. Um morador mais antigo, ancião com mais de oitenta anos, explicou a aparição: seria o fantasma de um português que vendia mel em tempos passados naquela vizinhança. Ele ainda era muito jovem quando desapareceu misteriosamente e depois foi dado como morto, num crime nunca esclarecido. O espectro tinha sido visto por outras pessoas daquela redondeza.

Depois daquele dia, Prazeres procurou outro lugar para se esconder. Nunca mais esqueceu a face do vendedor de mel.