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Maluquice(vale a pena ler)

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Mensagem por C.roberto.m Sex 14 Fev 2014, 19:03

MaluquiceAcho que era julho de 83, eu trabalhava de vigia noturno em um museu em Nova York. Não me recordo do dia do mês, mas era uma quarta-feira.
Um pouco antes das 06 horas da madrugada eu voltava do trabalho para casa "a pé" como de costume. As ruas eram as mesmas de sempre, com aqueles velhos buracos próximos à faixa de pedestres, que quando distraído me faziam tropeçar. As luzes dos postes que iluminavam a madrugada também eram as mesmas, até mesmo aquela que apagava e acendia em um intervalo de tempo curtíssimo.
Mas a rotina monótona foi interrompida naquela madrugada. Quando eu já estava quase chegando em casa, uma mulher me abordou na rua, ela não tinha ar o bastante para falar, e nos segundos em que recuperava o fôlego eu notei que ela era realmente bonita, mas tinha uma aparência de desespero e cansaço. Ela vestia uma calça social preta, uma camisa branca, e calçava sapatos que embora não possuíssem salto, eram sociais. Quando conseguiu finalmente falar, fez uma pergunta da qual parecia já saber a resposta:
- Você é o vigia Afonso do museu Internacional, não é?
Fiquei assustado, como saberia ela dessas informações?
- Como sabe meu nome e onde trabalho?
- Sei porque também sou vigia do museu.
- Estás a mentir, nunca te vi por lá, e eles nem mesmo contratam mulheres para vigia.
- Não contratavam! Até você ser demitido nesse ano.
- Estás louca? - Foi só o que consegui dizer, mas era impossível ela saber que eu seria demitido.
- Me escute, por favor. No dia 17 de dezembro de 87 vai haver um assalto ao museu Internacional, no qual você não estará mais trabalhando, e eu estarei ocupando seu cargo, mas não poderei impedir o assalto.
Eu estava paralisado, aquilo tudo me parecia loucura, talvez ela estivesse bêbada, mas aquelas poucas palavras soaram tão convictas que continuei a ouvi-la.
- Eu estarei sozinha e os ladrões me levarão a sala 12, onde ficam os quadros mais valiosos, aqueles que - você sabe - nem sempre ficam expostos. Eles parecem saber exatamente onde encontrar o que procuram. Apontarão uma arma para minha cabeça, e então serão os quadros ou minha vida. Os ladrões falam como se formassem uma entidade, um tipo de irmandade, na qual um não abandona o outro sob juramento de morte. Um dos ladrões será ambicioso e irá sozinho ao cofre 17 conferir se não há nada valioso lá. Eu lhe darei a senha, pois não terei opção, mas você sabe que a senha que abre o cofre de fora para dentro não é a mesma que abre de dentro para fora. Eu preciso que você esteja lá para trancar esse ladrão no cofre, pois o bando não irá embora sem um deles. Assim ganharemos tempo e chegará a ajuda que pedi quando notei que havia gente tentando entrar no museu. Precisamos ganhar apenas três minutos.
Eu permanecia paralisado, meu corpo estava todo arrepiado. Ela estava tão desesperada, e me deu tantos detalhes. Ela havia me convencido que algo realmente aconteceria no dia 17 de dezembro de 87.
Ouvi um barulho de carro buzinando, a luz estava alta e o carro começava a frear. Só então notei que estávamos no meio da rua. Em questão de milésimos me joguei na calçada, e quando abri os olhos e ver o que tinha a minha volta, a mulher não estava mais lá.
Fiquei maluco com toda essa situação, ela falou de uma forma tão convincente, não poderia estar mentindo. Não consegui dormir e no outro dia resolvi alertar o gerente do museu.
Inicialmente ele riu da minha cara, e depois pareceu preocupado. Me pediu se estava tudo bem comigo, e quis me mandar para um para um psiquiatra, foi então que notei que ele achava que eu estava ficando louco, ou que estava sobre o efeito de algum tipo de droga. Fiquei nervoso por ele rir e nem se quer ouvir tudo o que eu tinha para dizer. Ele chamou os seguranças.
Fui demitido e fiquei conhecido como o vigia maluco. Todos riam de mim na rua, minha vida se tornou um total desastre.  A mulher da quarta-feita de 83 ou o gerente? Não sei qual o culpado pela minha desgraça, mas, com certeza, era uma dos dois.
Hoje é dia 18 de dezembro de 87, tive um compromisso ontem. No começo da madrugada entrei no museu Internacional por um lugar conhecido por poucas pessoas. O assalto começou e seguiu o curso que mulher havia me contado na madrugada de 83. E ela estava lá!
Eu estava desumanamente feliz. Eu não podia fazer barulho algum, mas meu riso interno era tão poderoso que eu tinha a impressão que ele ecoava por todo o museu. Eu estava certo por ter acreditado nela! A partir daí tive certeza do que estava fazendo, e segui meu plano.
Meu plano deu certo, e por isso hoje não sou mais pobre como era em 83, e ninguém mais ri de mim.
Conto essa história da sala de estar da minha mais nova casa em Mônaco. Posso dizer que esse ambiente é demasiado mais agradável que o apartamentinho medíocre em que morei de 83 até ontem. Além disso a arquitetura da casa é de uma beleza imensa, e há aqui uma decoração única. Quadros de edições limitadas, ou ainda exemplares únicos. Moro com alguns amigos, ou devo dizer.. moro com meus irmãos que nunca deixo para trás? Afinal, não há porque deixar para trás as únicas pessoas que acreditaram em mim. Eu não ganhei os três minutos que a mulher de 83 disse que precisávamos. Eu ganhei a vida.
Quem é o vigia maluco agora?


OBS: Conto feito a partir de proposta textual, na qual deveria ser construído um texto que envolvesse um vigia maluco, quadros valiosos e um bando de ladrões.

Creditos:Aline Do Amaral


Fonte:Recanto das Letras


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