A vingança do Boneco.

por seth' Seg 31 maio 2010, 20:51

O André era um rapazinho de 6 anos, órfão de pai e de mãe e vivia com o seu tio Eduardo, que era médico e, para passar o seu tempo, fazia de ventríloquo em algumas festas.
Apesar de pequeno, o André era muito corajoso e não tinha medo de quase nada excepto duas coisas: de cobras e do Stuart (o boneco do seu tio).
Na escola secundária ao lado da escola do André faziam sempre festas no natal, no carnaval, na Páscoa, nas férias de verão…mas a mais especial era no Dia das bruxas. Todos os alunos da escola secundária, da preparatória e da primária participavam nessas festas e quando chegou a altura do Dia das bruxas, o André, tal como todos os alunos das três escolas foi convidado para a festa.
Ele ficou muito contente e mal chegou a casa, apressou-se a contar ao tio. Só que o André não sabia muito bem o que se fazia numa festa do Dia das bruxas. O tio explicou-lhe que ele tinha de ir disfarçado de uma coisa assustadora porque a festa era mais ou menos assim.
O tio disse-lhe então para ir ao sótão e dentro de um baú estavam vários disfarces e ele podia escolher o que mais gostava. Perguntou ao André se queria que ele fosse com ele mas o André respondeu que não tinha medo de ir sozinho e subiu as escadas a correr.
O sótão estava escuro e frio, mas o André não estava com medo. Olhou á sua volta e viu dois baús, um á sua direita e outro á sua esquerda. Aproximou-se do baú que estava á sua esquerda, abriu a fechadura e, de repente, ouviu o seu tio a chamá-lo.
O André voltou a descer as escadas, mas deixou o baú aberto. Perguntou ao tio o que queria e ele respondeu que se tinha esquecido de lhe dizer qual era o baú que devia abrir, era o que estava do seu lado direito.
O André voltou a subir as escadas a correr, ajoelhou-se e abriu o baú da direita. Viu um disfarce de bruxa, de fantasma, de monstro e de esqueleto mas o que mais lhe agradou foi o de vampiro.
Levantou-se para se ir embora, quando ouviu o barulho de uma dobradiça. Voltou-se para trás e ficou petrificado: do baú da esquerda, aquele que ele se tinha esquecido de fechar, tinha saído o Stuart. O pequeno boneco tinha-se tornado agora maior que ele, tinha ganho vida e vinha acompanhado do outro grande medo do André, cobras. Uma jibóia saiu do baú e apareceu por trás do Stuart. O boneco disse, com a sua voz esganiçada “tanto tempo fechado naquele baú e agora vou ter a minha vingança”.
A jibóia começou a aproximar-se cada vez mais do André. Ele tentou gritar mas parecia que a sua voz tinha desaparecido. Começou a andar de costas e de repente caiu das escadas.
Foi a correr ter com o tio e contou-lhe tudo. Este disse-lhe para não ter medo e que ia ver o que se passava. Subiu as escadas e olhou para o sótão. Viu o baú dos disfarces aberto e todas as roupas espalhadas pelo chão. O baú de onde supostamente tinha saído o boneco estava fechado e o tio Eduardo aproximou-se dele. Abriu-o e viu o boneco completamente imóvel.
Chamou o André e mandou-o espreitar para dentro do baú. Ele aproximou-se, devagar, apesar de já não ter muito medo, pois o seu tio estava ali e ia protegê-lo se algo de mal lhe acontecesse.
Espreitou e viu que o boneco não se mexia nem apresentava sinais de vida e ficou mais descansado. De repente, um livro cai ao chão e o tio do André olhou para ver o que tinha acontecido. O André continuava de olhos fixos no boneco e mal o tio virou costas, o boneco esbanjou um sorrido de malícia. O tio apanhou o livro, pegou no disfarce que o André tinha escolhido e saíram os dois do sótão.
Nunca se soube ao certo quantos fenómenos estranhos aconteceram a partir daí.
Um dia, o tio do André sofreu um acidente, tinha ele mais ou menos 16 anos. Esteve muito tempo no hospital e, quando estava quase na sua hora chamou o André e contou-lhe o seu último desejo: mal o tio morresse queria que o boneco fosse enterrado no quintal, dentro do baú.
A hora mais temida pelo André chegou, o seu tio, a única pessoa que ele tinha no mundo, tinha morrido. Apesar do seu grande medo do boneco, o amor pelo seu tio era maior e ele queria que o seu último desejo fosse realizado.
Vestiu-se, foi ao funeral do tio e quando saiu de ao pé do túmulo era já de noite. Não se sabe se o boneco foi enterrado no quintal, tal como o tio do André desejava mas sabe-se que desde o dia do funeral do tio, o André nunca mais foi visto por ninguém.