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Assassinato na Ponte

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Mensagem por AllysterNightwind Dom 09 Jan 2011, 18:06

Os antigos contam que, por volta dos anos 20, aconteceu um assassinato brutal lá na ponte do rio Shoto. O assassino partiu o corpo em pedaços e o atirou nas águas barrentas. Cinco anos após o assassinato, coisas estranhas começaram a acontecer naquele lugar, e a ponte foi interditada pelas autoridades municipais.
Claro que isso era uma lenda, isso foi o que sempre pensei, mesmo quando criança. Mas quando tinha uns vinte e dois anos, viajei a negócios para o extremo norte, e fui passar uma noite numa hospedaria próxima à ponte do rio Shoto.
Confesso que não me lembrava mais das histórias dos antigos e, nem passou pela minha cabeça que me encontrava próximo a um lugar tido como assombrado.
À noite resolvi sair um pouco, queria apenas caminhar pelas redondezas, apreciar o ar noturno. O dono da hospedaria me alertou que não caminhasse muito para o leste, para os lados da ponte. Indaguei o motivo daquele estranho aviso, e ele logo foi explicando:
— Coisas estranhas acontecem na ponte do Shoto.
Instantaneamente me lembrei das histórias dos antigos e, movido pela curiosidade e pelo ceticismo, resolvi conferir eu mesmo a veracidade de toda aquela crendice.
Não caminhei mais que quarenta minutos, e logo divisei a estrutura da ponte já bem próxima. Eu não portava nenhuma lanterna, a lua brilhava bonita no céu, iluminando muito bem os caminhos. Caminhei tranquilamente em direção à ponte, sem nenhum receio.
Ao chegar bem perto, parei e contemplei aquela estrutura negra e velha, aquilo tinha certo charme, certa beleza estranha. Observei que ainda era possível caminhar pela ponte com certa segurança, parecia que estava bem sólida. Dei um passo e experimentei a solidez daquilo, ouvi apenas uns poucos rangidos, e já me senti mais seguro. Iniciei então uma caminhada rumo ao outro lado.
Não havia dado dez passos quando ouvi, às minhas costas, algo que lembrava um murmúrio, voltei-me para aquela direção, mas nada havia. Continuei a caminhar, pois julguei que aquilo certamente não passava de vento passando ligeiro pela estrutura metálica. Mas logo em seguida ouvi um chapinhado, um som semelhante ao produzido quando se caminha em terreno encharcado.
Voltei-me outra vez, mas novamente nada havia às minhas costas. Resolvi continuar minha caminhada, mas... deparei-me com algo que, a princípio, nem entendi direito o que era. Estaquei, tentando compreender o que era aquilo na minha frente. A coisa estava se arrastando, vinha na minha direção. Ao invés de fugir, eu me aproximei, não estava com medo, apenas curioso. A estranha figura se arrastava com muita dificuldade, fazendo um barulho desagradável, dando a impressão de que se tratava de algo pegajoso.
A luz do luar finalmente clareou a estranha criatura, foi então que senti uma pontada de assombro. O que estava na minha frente era uma confusão de membros ensangüentados. A carne estava à mostra, revelando nervos espasmódicos. O cheiro era pavoroso e... O pior não era isso.
Quando meus olhos se encontraram com as órbitas vazias daquela coisa, senti, não sei explicar como, uma enorme piedade daquela aberração. Existia naquelas cavidades escuras algo como um pedido de socorro. Fiquei paralisado, contemplando aquele olhar morto e sofrido. A coisa, com a cabeça um pouco inclinada para a direita, encarava meus olhos de uma forma tão tristonha, que comecei a chorar. Inacreditavelmente, não conseguia me conter, aquele olhar era triste demais, revelava um sofrimento impossível!
Não sei por quanto tempo permaneci olhando fixamente para aquela monstruosidade, mas, ela tomou a iniciativa de terminar com minha inércia. Com uma boca sem dentes e horrendamente deformada, começou a falar comigo. Percebi aterrorizado que pedaços de carne se soltavam quando ela pronunciava as palavras. Plaf... era o barulho que fazia quando eles caiam no chão.
— Por favor... por favor, meu nome é Jonas, o que estou fazendo aqui? O que aconteceu comigo?
Confesso que nesse momento fiquei tão assombrado que tive sérias dificuldades para pronunciar umas poucas palavras.
— Eu... eu... não sei Jonas... o que você está fazendo aqui.
— Onde está minha mãe, ela... ela ficou de me buscar aqui antes de anoitecer.
— Onde você mora? Fica longe da ponte?
— Não, fica logo depois da estação.
Fiquei ainda mais assombrado, não existia estação ali por perto. Senti-me obrigado a comunicar isso.
— Não existe estação aqui, eu...
— Mas fica bem perto... bem perto mesmo, é só... Cadê ele! — a coisa gritou e moveu a cabeça para todos os lados muito rapidamente – Ele vem me matar... ele quer me matar!
Ouvi um som áspero às minhas costas, voltei-me rapidamente e meu sangue gelou. A poucos passos de mim uma figura gigantesca caminhava pela ponte, carregava consigo um enorme facão e, nos lábios, exibia um sorriso zombeteiro.
— Não, ele vai me matar! — a coisa gritou agudamente.
A assustadora aparição gigante precipitou-se em nossa direção, senti algo frio passando por meu corpo, fechei os olhos de terror, e ouvi o uivo da criatura que se denominava Jonas. Quando abri os olhos, deparei-me com uma cena tão terrível que senti meu corpo esmorecendo.
Logo à minha frente, a segunda aparição dilacerava a primeira com o enorme facão. A arma subia e descia a uma velocidade espantosa, pedaços de carne podre voavam para todos os lados! O cheiro que saia daquela carcaça fantasmagórica enchia minhas narinas como se fosse algo pastoso. Estava invadindo meus pulmões e mexendo no meu estômago com garras terríveis e implacáveis.
A criatura que estava sendo impiedosamente despedaçada uivava para a noite, e a monstruosidade assassina gargalhava cruelmente. Eu contemplava tudo aquilo apavorado, mas não conseguia me afastar dali. Subitamente, senti algo gelado no meu ombro, quando olhei para trás deparei-me com um rosto cadavérico de uma criatura que, certamente, um dia havia sido uma mulher. Aquilo olhou nos meus olhos tão sofridamente que a piedade que senti foi maior que o pavor.
— Ajude meu filho, por favor, ele está sendo assassinado... Ele é um inocente, e está sendo impiedosamente assassinado.
A criatura disse aquilo com uma voz chorosa e, por mais inacreditável que isso possa parecer, percebi lágrimas de sangue descendo de seus olhos mortos.
Ao ouvir aquelas palavras e, quando olhei novamente para a cena terrível que se desenrolava à minha frente, a criatura quase totalmente dilacerada e, ainda me olhando com olhos tristes enquanto gritava e via as próprias entranhas sendo arrancadas por uma criatura horrenda, desmaiei.
Acordei com o sol batendo no meu rosto. Abri os olhos, olhei para todos os lados freneticamente, percebi então que já era dia. Ao redor, somente a estrutura da ponte. Levantei-me com certa dificuldade, minhas costas doíam horrivelmente. Sentia-me muito mal: culpado, impotente. Na verdade, eram tantos sentimentos nefastos que jamais saberei descrever de fato como me sentia naquela manhã.
Caminhei em direção à hospedaria, a cabeça baixa, a mente em desalinho. Quando cheguei, o proprietário, percebendo meu abatimento, perguntou-me com preocupação onde eu havia passado a noite. Nem me dei ao trabalho de responder, apenas disse um “bom dia” desanimado e fui para o quarto, arrumei minhas coisas e sai daquele lugar.
Nunca mais fui para aqueles lados do rio Shoto.
AllysterNightwind
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Mensagem por K~Lo Seg 10 Jan 2011, 10:34

Muito Bom! Arrepiante!
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